Existem ferramentas no mercado que precificam essas expectativas dos agentes. Como exemplo, as “apostas” nas Digitais de Copom dessa semana se davam como segue na tabela. Ou seja, há uma probabilidade, na visão do mercado, de cerca de 95% de que a Selic seja mantida na reunião do Copom desta semana.
Expectativa | Probabilidade |
---|---|
Manutenção em 13,75% (+0 pp) | 94% a 96% |
Fonte: B3 (Opções de Copom). Elaboração: XP.
Nossos economistas da XP enxergam este mesmo cenário base:
“Os dados desde o último Copom foram ruins para a dinâmica inflacionária, mas a incerteza aumentou. Choques recentes (SVB, Americanas, etc.) podem tornar dados passados menos relevantes neste momento. Nossas simulações replicando o modelo do Copom indicam ligeiro aumento das projeções para o IPCA de 2023 (de 5,6% para 5,7%) e 2024 (de 3,4% para 3,5%). Esperamos que a taxa Selic permaneça em 13,75% nesta reunião e que o comunicado pós-decisão deixe as portas abertas para frente. Por ora, mantemos nossa projeção de estabilidade da taxa Selic em 13,75% até o final do ano. Reconhecemos, entretanto, a possibilidade de cortes mais cedo, a depender da evolução dos choques financeiros e da forma que o Copom optará por administrar o balanço entre desaceleração da atividade e convergência da inflação.”
A comparação entre as expectativas do mercado nas vésperas do Copom de fevereiro e agora ajudam a entender o cenário.
Indicador | Expectativas na semana do último Copom (fevereiro) | Expectativas atuais |
---|---|---|
DI Jan/24 | 13,5% | 13,0% |
DI Jan/27 | 12,8% | 12,5% |
Câmbio (R$/US$) 2023 (Focus – Mediana) | 5,25 | 5,25 |
Câmbio (R$/US$) 2024 (Focus – Mediana) | 5,30 | 5,30 |
IPCA 2023 (Focus – Mediana) | 5,7% | 5,95% |
IPCA 2024 (Focus – Mediana) | 3,9% | 4,11% |
Selic 2023 (Focus – Mediana) | 12,5% | 12,75% |
Selic 2024 (Focus – Mediana) | 9,5% | 10,0% |
Fontes: Anbima e Banco Central (Boletim Focus). Elaboração: XP.
O que esperar para a renda fixa?
Além de precisarmos acompanhar qual será a decisão do Copom sobre a taxa Selic, é necessário nos atentarmos ao comunicado sobre os planos do BC para a política monetária, que guiarão as expectativas para os juros nos próximos meses. Com base nisso, o que o Copom dirá desta vez?
Cenário-base: Manutenção com portas abertas
Esperamos que a taxa de juros seja mantida em 13,75%. Desde o último Copom, em fevereiro, turbulências no sistema bancário dos EUA e da Europa, eventos de crédito no Brasil e a proposta de novo arcabouço fiscal por parte do governo local passaram a figurar no cenário econômico.
Nosso time de economia ressalta não estar claro, ainda, qual o impacto destes acontecimentos sobre o balanço de riscos do Copom. Isto nos leva a prever um comunicado por parte do BC que deixe as “portas abertas” para um eventual corte de juros caso necessário, mais cedo do que se esperava antes.
Quais ativos vão melhor neste cenário?
Caso o cenário que esperamos se concretize, é possível que a curva de juros se acomode à comunicação, no sentido de reduzir as expectativas de Selic para a reunião de maio. Com isso, a parte curta da curva deveria cair (valorizando títulos de curto prazo) e a de longo prazo poderia subir (desvalorizando os títulos longos).
Atualmente, o mercado precifica maior probabilidade de manutenção na próxima reunião, em maio, porém já é possível identificar agentes que esperam cortes de até 0,5 ponto percentual:
Expectativa Copom Maio/2023 | Probabilidade |
---|---|
Manutenção em 13,75% (+0 pp) | 65% a 69% |
Corte para 13,25% (- 0,5 pp) | 15% a 22% |
Corta para 13,5% (- 0,25 pp) | 12% a 18% |
Fonte: B3 (Opções de Copom). Elaboração: XP.
Vale ressaltar que continuamos com visão positiva para a renda fixa de maneira geral, visto que as taxas de juros permanecem elevadas e o IPCA continua a ser um tema de monitoramento. Recomenda-se, no entanto, cautela, uma vez que os riscos relacionados ao cenário fiscal e de crédito corporativo têm tornado mais alta a volatilidade dos títulos.
Cenário alternativo: Manutenção com indicações mais claras
Enxergamos como possível alternativa ao cenário base manutenção de 13,75% com comunicado do BC envolvendo indicações mais claras em relação aos riscos existentes atualmente no mercado. Ou seja, seria um comunicado mais dovish do que em nosso cenário base.
Sendo assim, esperaríamos comportamento da curva de juros semelhante, porém com maior intensidade, com maior ganho de inclinação.
O que pode acontecer de diferente?
Tudo o que apresentamos aqui leva como base apenas a reunião do Copom dos dias 21 e 22 de março, sua decisão e posterior comunicado. No entanto, devemos ter em mente que, além de os cenários analisados serem apenas expectativas (ainda que com base em observações históricas), outras forças agem no mercado diariamente que muitas vezes fogem do radar.
Como exemplo, podemos citar os eventos de crédito que vêm ocorrendo não apenas no Brasil (como Americanas), como nos EUA (SVB) e Europa (Credit Suisse). A dinâmica fiscal também segue no radar e deve manter ainda o mercado volátil.
Por fim, na mesma data acontece a reunião de política monetária nos EUA (FOMC), que também é bastante esperada pelo mercado. Nossa expectativa é de elevação de 0,25 pp pelo banco central norte-americano (Fed). Esperamos reação no dia seguinte às reuniões em relação a ambas.
Tendo isso em mente, é importante sempre acompanhar as principais movimentações e análises de mercado para ajudar na melhor tomada de decisão, além de sempre considerar seu perfil de investidor(a) para melhor estratégia de composição de carteira.
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Glossário
Entendendo os termos sobre as condutas do Banco Central
Dovish: A origem vem da palavra dove, pomba em português. Sinaliza uma conduta do Banco Central mais confiante de que o cenário de inflação não será um problema, e, portanto, pendente a adotar uma política monetária expansionista ou menos restritiva para estimular a economia.
Hawkish: A origem vem da palavra hawk, falcão em português. Sinaliza uma conduta do Banco Central preocupada com os riscos inflacionários, e, portanto, pendente a adotar uma postura monetária mais dura, com subidas mais fortes na taxa de juros, ainda que isso possa prejudicar o emprego e a atividade no curto prazo.
Agenda de reuniões do Copom – 2023
- 21 e 22 de março
- 2 e 3 de maio
- 20 e 21 junho
- 1º e 2 de agosto
- 19 e 20 de setembro
- 31 de outubro e 1º de novembro
- 12 e 13 de dezembro.